domingo, 26 de março de 2017

sons selvagens


o buraco da poesia engole
o buraco da poesia,
a soma de todas as palavras que espalhei
sobre a barriga do monstro de argila,
sobre a cabeça do sono
das coisas que nunca dormem

e eu nunca durmo,
apago carvões com a chave
que movo na fenda
da casa de todos

o inventor aqui nada inventa,
abre as pernas do nunca,
o imperfeito,
a roma de que nunca esteve em virgilio,
o carvalho crescido
nos pares de ossos,
nas constantes pegadas
que deixo nas paredes
que se estendem para o além
do que devo ver

amarela clava de fogo atiçado
pela imaginação
que não guardo nas portas,
nas páginas do que não escrevo
porque escrever é reter
na matéria os sons selvagens

( edu planchêz )

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